Northern Wolves
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MasterKrusty
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Sáb Jan 19, 2019 6:32 pm
Contos do Cigarra Pride_10

Muitos pensam nas histórias apenas como uma diversão, um jogo bobo que os velhos usam para passar o tempo. Outros acreditam que elas sejam instrumentos de dominação, uma forma de forçar convicções e doutrinas naqueles que as ouvem.

Mas, sendo um Galliard, prefiro acreditar que as histórias tenham um valor muito maior do que a mente idiota destas pessoas acreditam.

As histórias são como o vento, uma leve brisa que traz o cheiro salgado do mar ou sabor adocicado da terra. São o gentil toque de nossa mãe, que nos guiam em direção ao futuro incerto. São o alimento de nossas almas e corações. São nossas próprias vidas.

São um reflexo de nós mesmos, nosso futuro e nosso passado.

Contudo, não contarei qualquer história.

Esta história é para mim, e para muitos outros Garous espalhados pela face de nossa mãe, a mais importante de todas. É o início e, bem provavelmente, será o fim.

Essa é a história do Coração da Tempestade.

E ela começa no amago das sombras, com o seu silencio sepulcral sendo irrompido pela voz do imenso lobo negro, em uma língua a muito tempo esquecida, perturbando a estagnação das trevas:

“Ainda não”

Era uma escuridão tão densa e angustiante que sufocava os seus sentidos e a razão. Não sabia quanto tempo estava ali, vagando sem rumo naquele vácuo inócuo e deserto, sem consciência de seu próprio corpo ou pensamentos. Apenas existindo, uma peça de carne e fúria flutuando na negritude de um universo infinito e vazio. Nada. Escuridão. Solidão. Morte. Mas, antes que o sem fim pudesse devorar completamente seu corpo e mente, algo inesperado aconteceu. Um som, baixo e quase imperceptível a princípio, como o bater de asas de um inseto, mas o suficiente para quebrar novamente todo aquele incomensurável vazio:

“Por que lutas ?”

O sibilo ecoou lentamente, se repetindo incontáveis vezes, se multiplicando em pontos distintos daquela imensa lacuna, e a cada uma delas o som, lentamente, começou a aumentar de intensidade e força. E quando deu por si, ele já estava lutando com todas as forças contra a invencível escuridão que tudo dominava, uma luta perdida.

“Porque é o meu dever”

Respondeu repleto de brio, fazendo com que as trevas ficassem mais fortes do que nunca, pareciam envolver aquele pequeno som com cada vez mais violência, tentando de uma vez por todas colocar fim ao distúrbio do vazio. Era como se todas as ondas do mar fustigassem um pequeno barco, desprovido de vela ou remos, a deriva, largado a sua própria sorte, ou azar. Mas, por mais forte que os ataques parecessem, o som continuava a existir, continuava a perturbar a sufocante escuridão, que impressionada, novamente o instiga:

“Por que derrama seu sangue na terra?”

E então foi possível sentir alguma coisa a mais no meio ao nada...

Raiva.

“Porque ele pertence a terra, e para ela deve retornar.”

Rebateu, fazendo com que um outro som aparecesse imediatamente, tão fraco quanto o primeiro, mas com a mesma petulância e insistência. E esse som foi seguido por mais um, e por outro, e por mais dois.

“Por que enfrentas tão alegremente a morte?”

E em resposta, centenas de sons se juntaram ao primeiro que as desafiava, em uma cacofonia de brisas. Em todos os cantos da infinita escuridão, sussurros e murmúrios se misturavam e se ajudavam. A escuridão, em sua imensa raiva, tentava destruir aquelas pertubações, como um tornado ensandecido. Mas ainda assim não conseguia silenciar aqueles valentes sons.

“Porque nada temo, nem a morte nem a escuridão."

O sons, antes baixos como sussurros, começaram a se reunir, a seguir o primeiro som. Logo, todos os sons ressoavam como um só, uma única voz em frente as imbatíveis trevas. Por mais infinito que aquele poder podia parecer, não era nada comparada a coragem e determinação de todos aquelas vozes, unidas como uma só.

“ E porque nada temes?”

A escuridão, tão certa de seu poder e superioridade, não podia suportar a idéia de sussurros e palavras fazendo frente à sua vontade, à sua ira. Ela girou, enroscou e gurniu. Sua fúria fez com que todo o vazio tremesse, tamanho era seu poder. Suas garras começaram a rasgar a própria existência, criando cicatrizes e feridas imundas e fétidas e, por essas atrocidades, a escuridão se procriava.

“Porque não estou só.”

Mesmo com o poder invencível das trevas, mesmo com um infinito de novos inimigos vazando nas feridas da existência, as vozes permaneciam unidas, sem nenhum tremor ou dúvida. Suas garras estavam afiadas e suas presas a mostra. Nada podia vencê-los enquanto ali estivessem, juntos, lutando com todas as forças para que suas vozes continuassem a existir.

“Então, erga-se meu filho. Erga-se e encontre seu destino.”A batalha era inconcebível. Sons, trevas, atrocidades, garras, sangue, presas. Era como olhar no próprio coração de uma tempestade. Era como encarar a missão de uma vida.

“Siga meu chamado. Lidere. Vença”

Orgulho-de-Gaia abriu lentamente os olhos, ainda com o sussurro do vento em seus ouvidos. Seu pelo estava encharcado em suor, e seu corpo parecia mais cansado do que quando foi dormir. As imagens (ou seriam sons) ainda estavam vivos em sua memoria, e aquele chamado parecia ecoar por sua espinha.

-- Orgulho, você está bem ?

Nem tinha notado que seu irmão de matilha tinha se aproximado e, pela ansiedade em sua voz, parecia realmente preocupado.

--Não se preocupe, não é nada.

O grande lobo inspirou fundo o ar gelado da madrugada, mantendo os olhos fechados. Não seria fácil, e muitos podiam perder a vida com isso.

Mas era seu destino.

-- Meu irmão, vá chamar os outros. Diga que estamos de partida.

-- E para onde vamos ?

-- Responder o chamado da tempestade...



Um conto de "Cuin Sangue-Fervido, portador de Gaothlann, a Lâmina dos Ventos, filho de Tomado-pelo-Fogo-Verde, Galliard dos Fianna."


Texto Original: Netão
Revisão, Adaptação e Complementos: Pride

Ref. http://rageacrossbr.blogspot.com/2012/11/o-chamado-para-o-coracao-da-tempestade.html
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